1. |
figmento no. 7
01:48
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foi tudo um sonho
eu lia revista recreio
o caminho dessa casa
armadilha de concreto e centeio
o mapa sempre erra
minha rua é sem saída e pequena
eu não lembro o caminho
e imagino que isso seja problema
eu troco um nome no meu celular
três lâmpadas num lustre me parece demais
um biscoito da sorte vazio
a conta de luz vem no meu nome
a conta de luz vem no meu nome
a conta de luz vem no meu nome
a conta de luz vem no meu nome
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2. |
cataratas
02:55
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deteriorando
são sete horas
todos os rostos
indistinguiveis
as portas fecham
minha garganta
todos os rostos
deteriorando
de lá pra cá não sou ninguém
sera que é assim com eles também?
se é tão fácil de evitar
jogar seus ossos contra o mar
então me diga
então me diga
porque não
então me diga
então me diga
por que não?
as minhas veias sem sangue
os nomes todos em branco
então me diga
então me diga
porque não
então me diga
então me diga
por que não?
subo as escadas
desço as escadas
procuro ajuda
nada de novo
não é piada
são só meus vícios
eu não te odeio
é minha cara
o meu problema (com poréns)
eu não sei se eu sei quem são vocês
se é tão fácil de evitar
jogar meus ossos contra o mar
então me diga
então me diga
porque não
então me diga
então me diga
por que não?
as minhas veias em branco
os nomes todos tem sangue
então me diga
então me diga
porque não
então me diga
então me diga
por que não?
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3. |
clavícula
02:08
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os deuses te perdoam
os mares te perdoam
mas eu
nunca vou te perdoar
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4. |
gerador
03:19
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os pés que vão cair no chão
as mãos que vão te assegurar
seus pais já voltam do trabalho
você não sabe o que é trabalho
a neve cai na sua tv
estática em seu cobertor
você não quer sair de casa
você não quer sair de casa
a vida toda pela frente
a vida toda pela frente
a vida toda pela frente
a vida toda pela frente
já se passaram quinze anos
você não sabe o que é trabalho
aquela que será seu fim
ainda guardam em segredo
e se passaram mais três anos
você não sabe quem se importa
estática em sua tv
o cheiro da paisagem morta
o cheiro da sua memória
as ruas de sua infância
da queda brusca não levanta
assume a forma da garganta
agora você é assim
e nada vai poder mudar
seus pés não tocam mais o chão
seus pés não tocam mais o chao
seus pés não tocam mais o chão
seus pés não tocam mais o chão
você não pode sair de casa
você não pode sair de casa
você não pode sair de casa
você não pode sair de casa
você decide sair de casa
você encontra o seu segredo
você decide sair de casa
você engole o seu segredo
você precisa sair de casa
você digere o seu segredo
você precisa sair de casa
você entende o seu segredo
você decide sair de casa
você consegue sair de casa
você decide sair de casa
você consegue sair de casa
um cérebro e duas mãos imóveis
você consegue sair de casa
você consegue sair de casa
você consegue sair de casa
você consegue sair de casa
você não precisa sair de casa
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5. |
grande abóbora
02:13
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grande abóbora
não posso te ver
eu não moro aqui
meu medo é você
são três da manhã
em outro lugar
eu não moro aqui
eu não moro aqui
são três da manhã
não posso te ver
grande abóbora
meu medo é você
grande abóbora
eu não sou você
os meus pés jamais
vão apodrecer
os meus sonhos são
o que você vê
grande abóbora
eu não sou você
meu medo é você
grande abóbora
meu medo é você
grande abóbora
meu medo é você
meu medo é você
meu medo é você
meu medo é você
grande abóbora
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6. |
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meu medo é uma dança
e danças são estúpidas
se você não tem coordenação
telejornalismo
está morto no meu coração
não quero mais ouvir seu
“boa noite”
você cortou o seu cabelo
e eu vendi minh'alma
filmes caseiros queimam a tv
acreditar não torna mais real
há muito mais de um ano eu sinto
que não existe solução
tem algo muito errado comigo
eu não quero ouvir não quero ouvir não quero ouvir não quero ouvir
mas eu checo sempre a caixa de spam
você mastiga lâmpadas
e cospe holofotes
ultimamente penso em não estar
acreditar não torna mais real
são paulo canta alto as mesmas três palavras
eu sei
você sabe
eu sei que você sabe que
bandas não são capazes de te amar;
pirateie música
sempre que puder
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7. |
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dê-me uma tomada;
eu quero puxá-la
abro a minha janela
eu escuto tudo
penso nos seus gatos
longe da minha casa
mal estou aqui mas
eu estou aqui
eu sinto sua falta;
fogos de artifício
perdidos no mercado,
eu sei, meu deus, que fardo
as noites mal dormidas
discutindo o plano:
querer estatizar os
cárceres privados
dê-me uma tomada;
preciso puxá-la
fecho a minha janela
eu escuto tudo
ouço o som do rádio
fecho os meus olhos
não lembro do caminho
por favor me guie
por favor me guie
por favor me guie
por favor me guie
o tempo me asfalta as mãos
o tempo me asfalta as mãos
o tempo me asfalta as mãos
o tempo me asfalta as mãos
o tempo me asfalta as mãos
o tempo me asfalta as mãos
o tempo me asfalta as mãos
o tempo me asfalta as mãos
o tempo me asfalta as mãos
o tempo me asfalta as mãos
como napoleão jogando pôquer num hospital psiquiátrico
como um ator cujas três falas numa peça foram escritas por um carpinteiro usando ácido
vejo a criança que desliga o videogame com medo de estar pecando
ouça o barulho das escadas pela porta, deve ser a sua avó chegando
o cheiro dela se mistura com o cheiro da morte iminente na estrada
você não disse o seu adeus apenas disse “eu te amo” e depois não disse mais nada
você não disse o seu adeus e nem ao menos “eu te amo”, só não disse mais nada
você não disse o seu adeus não pôde nem ao menos ir visitá-la
você não disse o seu adeus e não tem nada que possa mudar isso
você não disse o seu adeus e não tem nada que possa mudar isso
você não disse o seu adeus e não tem nada que possa mudar isso
você não disse o seu adeus e não tem nada que possa mudar isso
morrer pela pátria é menor que só morrer
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8. |
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vinte e três anos
não sei se é isso mesmo
tem pelo menos uns quinze
que acho que não te vejo
não sei o seu nome
não sei se você existe
você não sabe o meu nome
você não sabe se eu existo
eu não quero estar
aqui
mas toda noite estou
aqui
você mal sabe quem eu sou
você não sabe quem eu sou
eu nunca quis estar
aqui
a noite inteira pra poder
fugir
você mal sabe onde estou
você não sabe onde estou
quem é você
qual é o seu nome agora?
eu te vejo na rua?
eu sequer consigo te ver?
quem é você?
será que você já me viu?
será que me reconheceu?
será que você também desistiu?
eu não quero estar
aqui
mas toda noite estou
aqui
você mal sabe quem eu sou
você não sabe quem eu sou
eu nunca quis estar
aqui
a noite inteira pra poder
fugir
você mal sabe onde estou
você não sabe onde estou
monocrono, apenas um tempo
monocrono, apenas um tempo
monocrono, apenas um tempo
monocrono, apenas um tempo
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9. |
amianto (ou "asbesto")
02:38
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faço sopa no escuro
com meus olhos vendados
não censuro meus erros
quando não posso vê-los
fratricídio em desfoque
um caim hipermétrope
o que foi dito foi dito
“que será será”
(um prédio bloqueia o sol de você/
cruel a estrutura do amanhecer)
(dura como duas ruas nulas que jamais se anularão/azul o dia azula o dia o dia que a noite anilará/aniquilo e sou aquiles ou aquele que eles necessitarão/por maldade ou por burrice insiste um triste chiste que o golpeará)
hoje tenho saudades
mas bem sei meus pecados
faço sopa no escuro
com meus olhos vendados
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10. |
relaxantes musculares
03:18
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amigos dançam
sob o fogo
em suas faces
de papel machê
os meus joelhos
se derretem
estou no chão
e eu não sei porque
aqui embaixo é tão seguro
eu nunca mentiria pra você
à festa uma alternativa
em meu bolso posso
não morrer
aceitar dormir
não me parece
assim tão mal
agora
duro admitir
que minhas fugas
são sem trajetória
dancem entre vocês
só me parece fazer mais sentido
eu não vou mentir
até porque já vou estar dormindo
eu não posso esperar por tanto tempo
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11. |
cisne (indulto)
02:48
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buscar
cair
todo movimento é distração
sentir
talvez
tenha em si mesmo um final
a festa
dos mares
eu não sei se estou aqui pra ver
os dias
futuros
eu não sei se estou aqui agora
eu não sei se estou aqui agora
eu não sei se estou aqui agora
desculpa
desculpa
eu sei
eu sei
desculpa
desculpa
eu sei
eu sei
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