1. |
pavimento
03:12
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o pavimento não aguenta
os brutos passos de quem veio
não há ninguém em meu lugar
não há motivos pra receio
das nuvens
que cegam
não chove mais
nas fotos
sem foco
dos nossos pais
cheirando a lixo hospitalar
ela levanta de seu leito
já tem alguém em meu lugar
todo momento é receio
os corredores já abafam
suas palavras de anseio
a sua voz é tão ruim
e não existe mais recreio
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2. |
caneta retroprojetor
02:11
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todos os dias que passamos ali
todas as noites tentando desistir
as novas folhas que permeiam o chão
das velhas árvores que nunca verão
já
não via a hora de
poder tentar sair
ao mundo e se sentir
pior
a tinta-ovo na parede e na luz
a cor opaca a manchar meu capuz
o velho pátio no outono, seu lar
tentava ouvir pra ter o que ignorar
já
não via a hora de
poder tentar voltar
à sala que julgou
pior
o interfone, inimigo, à tocar
e só escombros do mal tempo por vir
naquele dia ninguém soube voltar
ninguém ouviu os seus motivos pra ir
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3. |
raso (montra)
03:58
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as sombras dos pinheiros na estrada não escondem mais
o que você quer não lembrar:
as datas anotadas nas sessões mais magras dos jornais,
amigos e seus funerais
me sinto numa montra:
pronto pra poder tentar vender
aquilo tudo que eu não sou
uma pessoa pronta
em frente do que nunca quis saber;
outros tempos
meus medos se derramam pelas rachaduras ao jardim
é tudo que sobrou de mim:
todos os ataques que eu já tive
e por todos que vou ter
eu só quis me desculpar
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4. |
gargalo
02:12
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tudo o que começa
antes da janela
tende a apodrecer
não têm mais saídas;
não têm mais motivos;
só há o que fazer
mas ninguém chega
porque ninguém vê
atrás da casa
atrás de você
é tudo longe demais
esses prédios todos
sempre foram feitos
pra morrer aqui
todo o novo é velho
e o que é velho vive;
é como tem de ser
mas ninguém liga
porque ninguém vê
atrás da casa
atrás de você
é tudo longe demais
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5. |
caixa d’água
03:04
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moscas volantes nos meus olhos
me fazem esquecer, não ver o fogo que queima em vocês,
as sombras mortas das memórias do tempo que passou,
o pouco tempo em que tudo era bom:
tapetes persas pendurados na sala de jantar
só esperando o seu tempo acabar
luzes agudas me perfuram os olhos, eu já sei
que o caminho de volta não tem fim
todo esse asfalto se afunda
nos vãos de puro breu
e só consigo me ver no que é seu
a sua caixa d’água nunca funcionou;
ela nunca funcionou
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6. |
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meu céu da boca está sangrando e eu tenho medo
de suas respostas violentas pra qualquer segredo
meus olhos já a definhar e o meu corpo segue
na fina linha que separa o amanhã do breve
segue a ver buracos na calçada que se deita ao meio-fio
(toda estrada cheira a morte, em qualquer meio de transporte)
conta pedras e hidrantes, não vê outro caminho pra chegar
(é tudo tão constante, o tempo inteiro tão constante)
seu céu da boca está em chamas e não vê motivos
mastiga areia, água e sal e cospe puro vidro
os nossos pés estão atados a um empecilho:
saber andar nessas subidas tortas sem destino
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7. |
marapé
03:01
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vamos
tentar
ver o céu;
andar
sem ter
pra onde ir
do seu lado
só me sinto
como se
eu
pudesse
ser alguém melhor
eu nunca quis estar
em nenhum outro lugar
senão aqui
o cheiro das manhãs
a luz no seu colchão
do seu lado
só me sinto
como se
eu
pudesse ser
alguém melhor
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